domingo, 7 de outubro de 2007

Os Pioneiros do Design Gráfico Digital

A evolução da "revolução digital" permite aos designers gráficos explorar novas ferramentas, criando novos resultados. (Meegs, 1998). A aceitação da utilização das novas tecnologias não foi imediata. Alguns designers criticavam e renúnciavam a tecnologiaq digital, outros aceitaram-na como uma ferramenta que permitia aumentar as possibilidades do design e os seus processos.

Com o surgimento dos computadores, passou a ser possível manipular cores, texturas, imagens, tipografia, aumentar e diminuir formas, com uma rapidez e capacidade de corrigir erros, nunca angtes possível.

Entre os pioneiros na utilização do uso do computador e destas novas tecnologias como ferramenta e potencial criativo, incluem-se os designers, April Greiman, Rudy Vanderlans, John Hersey e a designer tipográfica Zuzana Licko.

April Greiman explorou as propriedades visuais das fontes em formatos de bits, da informação que surgia nos monitores dos computadores, da síntese de vídeo e impressão. Os seus primeiros trabalhos exploravam os tipos em formaos de bits, as texturas geradas por computador, fotocopiadas e ampliadas, assim como colagens digitais totalmente produzidos por computadores machintosh. Explorou igualmente a captura de imagens através do vídeo e da sua digitalização criando uma linguagem gráfica própria, misturando imagens bitmap e vectoriais.

À medida que os computadores e os softwares se desenvolveram, iniciou-se uma possibilidade de novas expressões plásticas ao nível da imagem e da tipografia.


April Greiman - 1987


April Greiman


Em 1984 também Rudy Vanderlans começou a editar, desenhar e publicar a revista Emigre, em conjunto com dois colegas seus holandeses, apresentando os seus trabalhos e outros de outros artistas. Na sua primeira edição, a revista foi realizada apenas com a utilização de máquinas de escrever e de imagens copiadas. Com o surgimento do primeiro machintosh de baixa resolução, as seguintes edições utilizaram de imediato esta nova ferramenta. Esta revista converteu-se de imediato num "laboratório" de experimentação das novas tecnologias. Com uma tiragem de 7.000 exemplares, converteu-se num fenómeno de experimentação. indignando muitos profissionais do design e cativando outros que adoptaram as novas potencialidades da era dos computadores para re-definir a profissão do design gráfico (Meggs, 1998).

Esta revista serviu para ajudar a demonstrar os alcances da nova tecnologia ao nível do design editorial, como na apresentação de diferentes trabalhos de design e entrevistas com designers de todo o mundo. Deste modo, a revista Emigre foi pioneira como a primeira plataforma de apresentação, experimentação e discussão em torno do design gráfico.

Em 1987, Vanderlans abandonou o seu trabalho como designer na revista e, associou-se com a designer Zuzana Licko formando a empresa "Emigre Graphics".

Insatisfeita com as limitações das fontes disponíveis do primeiro machintosh, Zuzana Licko usou um programa gerador de fontes chamado FontEditor para criar novos tipos de letra digitais. As primeiras fontes foram desenhadas para as tecnologias de baixa resolução, depois converteram-se para acompanhar as versões seguintes para alta resolução, assim que os softwares de design de fontes e as impressoras evoluiram (Meggs, 1998).




Emigre Magazine - Nº 1 (1984) - Capa


Emigre Magazine - Nº 1 (1984) - Interior



Emigre Magazine - Nº 2 (1984) - Capa


Emigre Magazine - Nº 2 (1984) - Interior



Zuzana Licko e Rudy Vanderlans, 1997


Esquerda: Emigre Fonts Catalog, 1990. Designer: Zuzanna Licko. Typefaces: Matrix and Oakland.
Direita: Capa, the Emigre Catalog, 1992. Typeface: Keedy (Jeffery Keedy).


Esquerda: Capa, Emigre no. 19, 1991. Typeface: Template Gothic (Barry Deck);
Direita: Capa, Emigre no. 24, 1992. Typeface: Arbitrary (Barry Deck).


Capa, Emigre Fonts Catalog, 1996. Typefaces: Dogma and Base


Cartaz, 1995. Typeface: Base


Cartaz "Filosofia", 1997, Designer: Massimo Vignelli. Typeface: Filosofia


Zuzana Licko - Typeface: Low Res

Muitas escolas de arte e programas Universitários de design converteram-se em centros importantes na re-definição do design gráfico através do surgimento dos computadores. Katherine McCoy, designer gráfica e presidente do departamento de design da Cranbrook Academy of Art de Michigan, foi uma das impulsionadoras da experimentação, metodologias e crítica em torno do design, assim como a investigação dos significados do design, as suas aplicações e teorias linguísticas.

Durante 24 anos, o programa evoluiu para o racionalismo sistemático na resolução de problemas de design com influências do Estilo Tipográfico Internacional, num periodo que se questionava os limites expressivos desse estilo.

Alguns cartazes de McCoy desafiavam as normas de selecção de materiais, demonstrando uma complexidade de formas e significados. Ao contrário das noções predominantes das comunicações simples e reduzidas, McCoy quebra essas regras e níveis de mensagens visuais e verbais, levando os observadores a terem que as decifrar.



Manual de Comunicação para fornecedores, 1968. Realizado enquanto designer na Chrysler Corporation Identity Office



Design de cartaz para a Bicentennial jazz concert series - 1976


Capa de livro - Cranbrook Design School: The New Discourse, Rizzoli International, 1991, comemorativo dos 10 anos da escola - trabalhos dos alunos.

O designer gráfico Edward Fella, tinha sido um dos colegas de McCoy em Detroit no estudio Designers & Partners e, foi uma forte fonte de inspiração dentro do programa da Escola de Cranbrook. Depois de ter sido convidado por diversas vezes como crítico nessa mesma escola, passou posteiriormente a gerir os seus programas de graduação.

O trabalho experimental de Fella converteu-se numa grande influência para uma geração de designers. Explorou a arte vanguardista, explorou a desintegração das formas através da sua repetição, explorou a tipografia aleatória, explorando e investigando os potenciais estéticos das formas de letra inventadas, os intervalos espaciais irregulares, caractéres excentricos e, imaginações vernaculares, combinando-as com grande habilidade de composição.

Apesar de Fella premiar o trabalho dos jovens designers dedicados à realização dos seus trabalhos utilizando o computador, Fella prefere o uso de ferramentas manuais e raramente usa o computador (Meggs, 1998).



Tipo de letra desenhada para o New York Times book review, 1999 (Art direction: Steven Heller)


Frente e verso de cartaz para "Ed Fella lecture in Seattle", 2006.


Fotografias Polaroid de lettering vernacular, 1990 - 2005.


Ilustração, 1968.


Edward Fella: "Letters on America" (Princeton Architectural Press, 2000).


Tipo de letra desenhada para a "AIGA scholarship certificate", 2006.


Nos primeiros anos da década de 1990, os Estados Unidos atravessa a mais severa recessão económica desde a depressão dos anos 30, contudo e, ao contrário deste cenário, o progresso acelerado dos computadores, dos seus softwares e das máquinas de impressão permitiram que os designers gráficos explorassem possibilidades sem precedentes, apenas possíveis devido às poderosas capacidades das novas tecnologias.

O QuarkXpress, como aplicação para o design editorial, permitiu aos sues utilizadores colocarem diversos elementos como texto e imagens numa mesma página e, manipulá-los de uma forma ínfima, ajustando espaços, cores, etc.

O Photoshop, inicialmente desenvolvido para o tratamento e retoque de imagem, passa a permitir uma manipulação e criação de imagens nunca antes desenvolvida.

Seguiram-se novas direcções na exploração e educação do design e, os designers editoriais aplicaram essas novas linguagens.

David Carson foi um dos designers editoriais mais influentes desta década, deixa o surf profissional para se dedicar ao design editorial na década de 80, explorando as possibilidades expressivas de cada tema e de cada página, quebrando todas as noções convencionais da sintaxe tipográfica, a hierarquia visual e as imagens.
Foi director artístico e designer da Transworld Skateboarding (1983-1987), Musician (1988), Beach Culture (1989-1991), Surfer (1991-1992) e Ray Gun (1992-1996).

Relativamente à sua linguagem, os títulos dos artigos nas revistas espaçavam-se erraticamente através de sequências expressivas em vez de normativas. Recortava partes das letras, convidando o leitor a participar, decifrando mensagens. Os tipos de letras utilizados po Carson desafiavam a legibilidade, exploravam as direcções invertidas, as colunas de texto agrupadas não tinham nenhum espaço entre elas, o texto tinha um mínimlo valore de contraste e, os autores dos artigos e os seus temas "recebem" uma atenção cuidadosa, pois o design desenvolvido para cada um surgem por meio do significado das palavras, unificando a expressão da composição em harmonia com a expressão da escrita.

Carson foi inspirador para muitos jovens designers dos anos 90, ao mesmo tempo que provocava críticas noutros profissionais da comunicação que consideravam que ele tinha ultrapassado a linha entre a ordem e o caos.

A ilegibilidade dos trabalhos e tipografia de Carson foram criticados contudo, quando Carson, Vanderlans e outros designers elevaram os seus trabalhos aos limites da ilegibilidade, descobriu-se que muitos leitores eram mais flexíveis do que se pensava e, as mensagens eram lidas em circunstâncias menos ideais.

Os aspectos perceptuais do cinema e do vídeo foram uma fonte inspiradora nos trabalhos de Carson e, os ambientes cinéticos eram traduzidos nas suas páginas. Diferentes elementos visuais e verbais chocam e entram em contacto no espaço e na forma, da mesma forma que som e a imagem no cinema.

De acordo com carson, não se pode confundir legibilidade com a comunicação pois, muitas mensagens tradicionalmente impressas e muito legíveis, oferecem muito pouco ao nível visual, enquanto que trabalhos mais expressionistas podem atrair os receptores das mensagens.

Ray Gun foi a primeira foi a primeira edição de uma revista enviada para impressão totalmente em forma de arquivo electrónico.


Design - David Carson


Design - David Carson


Design - David Carson


Design - David Carson


Design - David Carson


Fontes:
Meggs, Philip B. (2002). History of graphic design. New York: John Wiley & Sons Inc. (3ª ed.).