domingo, 7 de outubro de 2007

O Design gráfico e a revolução digital

A tecnologia electrónica e os computadores evoluiram de uma forma estrondosa no último quarto do séc. XX, transformando por sua vez muitas áreas e actividades do ser humano, como no caso do design gráfico. A revolução tinha fragmentado o processso de criação e impressão das comunicações gráficas numa série de etapas específicas. Durante os anos 60 inicia-se um novo processo, com especialistas qualificados: desenhadores gráficos, tipógrafos, artistas de produção, operadores de câmara, etc.

Na década de 1990, a tecnologia digital permite que apenas uma pessoa controle a maioria dos especialistas, através de um computador pessoal, realizando sozinho todas as etapas dos processos.

Apesar de alguma resistencia inicial por parte dos designers, as novas tecnologias evoluiam rapidamente permitindo aos usuários um maior controlo sobre o processo de desenho e produção. A tecnologia digital e a evolução dos softwares contribuiram para ampliar o potencial criativo do design gráfico e tornou possível uma manipulação sem precedentes, da cor, das formas, do espaço e das imagens.

Com o crescimento massivo da subscritores da televisão por cabo (10.8 milhões de subscritores em 1976, passou para 61.7 milhões em 1996) e o surgimento de novos canais por cabo, inspiraram de uma forma significativa os avanços criativos e técnicos. Através destas novas tecnologias, as comunicações tornam-se massivas e dirigidas a um público numeroso.

O rápido desenvolvimento da internet e da World Wide Web durante a década de 1990 transformou a forma de comunicar e, o acesso à informação passa a ser mais facilitado pelos usuários.

A linguagem do design gráfico através da utilização do computador levou à experimentação de ideias modernistas, pós-modernistas, estilos retro, explorando diferentes técnicas digitais, criando pluralismo e diversidade na profissão.

Origens do design gráfico assistido por computador
Algumas datas importantes:

1950 - A engineering research associates of minneapolis constroi o ERA 1101, o primeiro computador produzido comercialmente;


ERA 1101 - 1950


1960 - O mundo "acorda" para as possibilidades de uma nova era dos computadores e, alguns artistas iniciam a exploração do computador como ferramenta criativa. Inicialmente apenas a comunidade científica (engenheiros, cientistas e matemáticos) tinham acesso a estas máquinas. As linguagens de programação eram um mistério para um utilizador comum, os softwares interactivos ainda não tinham sido desenvolvidos e os processos de criação gráfica eram apenas algorítmos.

No início de 1961, A. Michael Noll, pioneiro no uso dos computadores para as artes visuais, passa cerca de 15 anos em investigação nos laboratórios "Bell Telephone", New Jersey. A sua investigação conduziu a um computador que gerava padrões, simulando pinturas de Piet Mondrian e Bridget Riley. Lillian Schwartz através da experimentação do computador como ferramenta artística, explorou diversas animações abstractas nos anos 70 e 80


A. Michael Noll - "Computer-Generated Pictures" - 1965



A. Michael Noll - "Computer-Generated Pictures" - 1965



Lillian Schwartz - Pioneira da Arte Gerada por computador


1965 - Primeiras exposições de arte gerada por computador surgiram em Nova York (Howard Wise Gallery) e na Alemanha (Generative Computergrafik - Technische Hochsule), realizadas por A. Michael Noll e outros cientistas.
Estes dois eventos foram fundamentais para o reconhecimento e aceitação da arte gerada por computador.

1967 - Robert Rauschenberg e o engenheiro Billy Kluver, com Robert Whitman e Fred Waldhauer, fundaram a organização conhecida como E.A.T. - Experiments in Art and technology com o objectivo de aproximar a colaboraçã entre artistas e engenheiros. Este movimento não se baseava apenas na utilização do computador como ferramenta única, contudo encoragavam o uso das novas tecnologias para a manipulação artística e, tinha colaboradores como Andy Warhol, Jonh Cage e Jasper Johns.

Outro artista visonário, pertencente ao MIT (Massachusetts Institute of Technology, foi Stan Vanderbeek, abraçando novas tecnologias como o vídeo, o filme e os computadores. Segundo este autor, a tecnologia tornou-se o amplificador da imaginação humana;

1968 - O Instituto de Arte Contemporânea em Londres, exibe uma das mais influentes exibições de arte gerada por computador "Cybernetic Serendipity". Esta exposição realizada por Jasia Reichardt, incluia os mais importantes contribuidores na divulgação e investigação nestas novas tecnologias - Michael Noll, Nam June Paik, Frieder Nake, Jonh Whitney e Charles Csuri, tornando-se desta forma os primeiros "artistas digitais".


Cartaz para a "Cybernetic Serendipity Exhibition, ICA, London. 1968"



Fotografia da "Cybernetic Serendipity Exhibition, ICA, London. 1968"



Charles Csuri



Charles Csuri


1970/1980 - O desenvolvimento dos computadores e das suas tecnologias acelera estrondosamente. Os Computadores tornam-se mais pequenos e mais poderosos.
Em 1970 é desenvolvido o primeiro (GUI) Graphical User Interface foi criado pela XEROX Corporation´s Palo Alto Research Center, mas foi em 1980 através da Apple Macintosh que o (GUI) se tornou mais popular.


Kenneth Knowlton - "Designs from an Explicit Pattern" - Bell Telephone Laboratories, Inc. - 1970


Em 1984, a Apple desenvolve o computador Macintosh, a Adobe Systems inventou a linguagem de programação Postscript, fundamental para os programas de composição e de tipografia gerada electronicamente e a Aldus publica o Pagemaker, uma das primeiras aplicações de programas utilizando a linguagem Postscript, para desenhar modelos de páginas (design editorial).


Computador pessoal Apple - 1984


Software - Aldus Pagemaker


Software - Freehand

Com esta introdução da primeira geração de computadores da Apple, inicia-se uma verdadeira revolução gráfica.

A informação visual era apresentada em monitores em formatos de Bits a preto e branco com resolução de 72 Dpi.
É criado um interface intuitivo para o usuário, através do desenvolvimento de um instrumento chamado "Rato", cujo movimento controlava um ponteiro que era mostrado no monitor. Ao colocar o ponteiro sobre um ícone, fazendo clic sobre o botão do mouse, o usuário passa a controlar o computador e suas aplicações de uma forma intuitiva, focando-se no trabalho criativo em deterimento de operações complexas de programação.

Os elementos que apareciam no monitor passam a ser manipulados de uma forma similar, à forma tradicional como se preparavam os elementos para a impressão off-set

A companhia Apple, desenvolve diversos softwares para processamento de textos, desenho e pintura.

A linguagem de programação da Adobe Systems (Postscripts) permite aos impressores obterem textos, imagens, elementos gráficos, determinando a localização nas páginas.

Em 1985 a Apple Computers introduziu a sua primeira impressora laser, com saída de 300 Dpi de fontes Postscript, permitindo a duplicação das suas provas tipográficas, comparativamente com os tipos de metal

No ano de 1990, o computador Macintosh II, podia manipular gráficos, cores, melhorando os softwares, iniciando uma verdadeira revolução tecnológica e criativa no design gráfico, tão radical como foi a mudança no séc. XV da passagem dos livros escritos manualmente para os tipos móveis de Gutenberg.

Eleva-se desta forma uma expansão sem precedentes da actividade profissional, aumentando o número de designers individuais e gabinetes de design. Por outro lado a "democratização dos computadores" e a tecnologia digital permite a pessoas sem formação na área desenvolverem trabalhos gráficos.

Ainda nos anos 90, através da evolução da internet, o público geral passa a ter acesso a um mundo de informação e imagens e, a tecnologia "explode" no decurso da década. A internet cria novas oportunidades, as ideias são facilmente partilhadas, as pessoas passam cada vez mais tempo em frente aos computadores e habituam-se a ver imagens e a ler através do ecrã.

Fontes:
Raimes, Jonathan (2006). The digital canvas. Exploring the creative potential of the computer. East Sussex: Ilex Press;
Meggs, Philip B. (2002). History of graphic design. New York: John Wiley & Sons Inc. (3ª ed.).